Engenheiros que trabalham fora do Brasil contam suas experiências

O Brasil forma cerca de 40 mil engenheiros todos os anos, segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Algumas áreas, como a de engenharia civil, são responsáveis por índices positivos na criação de vagas de emprego – em 2020, a construção civil contratou 1.570.835 profissionais, segundo o Novo Caged. A formação sólida nas universidades do país também faz com que os engenheiros brasileiros conquistem boas oportunidades de trabalho em outros continentes e esse foi o assunto do painel “Jovens Profissionais” da 2ª. SEPEAG Digital.

Seis engenheiros brasileiros de diferentes áreas e que hoje trabalham em pontos distintos do mundo compartilharam suas experiências. O primeiro a falar foi o Eng. Agrônomo Renato Zardo Filho, que atua em Ohio, nos Estados Unidos. “A formação no Brasil é muito ampla e nos capacita para atuar em qualquer lugar do mundo. O agronegócio brasileiro é muito bem-visto no exterior”, destacou Zardo. O engenheiro recebeu o título de “Jovem Agrônomo do Ano” em 2015, já nos EUA, e hoje tem uma sólida carreira em um país onde há muitas oportunidades – estima-se que o déficit de profissionais qualificados gire em torno de cinco mil vagas. Para se aventurar em terras estadunidenses, falar inglês é fundamental, claro. “Ser fluente no idioma foi importante para a minha performance e consolidação profissional aqui”, ressaltou Zardo.

Muitas oportunidades e trabalho intenso
A fluência no idioma inglês, aliás, foi citada por todos os painelistas. A Engª. Agrônoma Marilia Cherobim Guiraud, que mora e trabalha em Burkina Faso, na África, começou a estudar outras línguas durante o Ensino Médio e isso facilitou a inserção no mercado de trabalho estrangeiro. Antes de chegar à África, ela se especializou em enologia e morou na França. “Há uma ligação histórica entre estes países. Viajei para conhecer a África, percebi que existiam muitas oportunidades de pesquisa de produtos agrícolas em parceria com universidades francesas e americanas. Hoje é meu país de coração”, comentou Marília, que está lá há 12 anos.

Também é no continente africano que está o Eng. Civil Ricardo Gasparino Ribas, terceiro palestrante do painel “Jovens Profissionais”. A experiência em Moçambique é nova, teve início há poucos meses, e cheia de desafios. Ricardo atua como engenheiro ferroviário e conta que a área demanda muita dedicação: “É um ritmo de trabalho intenso, praticamente 24h por dia. Um dos desafios por aqui é conquistar a credibilidade dentro do ambiente corporativo, é preciso ganhar a confiança das pessoas combinando o conhecimento técnico e o relacionamento interpessoal”, pontua o engenheiro. Ele considera que o networking é outro elemento fundamental para crescer profissionalmente em outros países: “Sempre tem o primeiro desbravador, aquele que vai trabalhar em um país diferente e depois chama seus conhecidos. A indicação e a capacidade técnica são igualmente importantes”.
Diversidade profissional
A diversidade foi palavra de ordem no painel de jovens profissionais, que viajou das ferrovias de Moçambique até as espaçonaves do Reino Unido, com a experiência compartilhada pelo Eng. Eletricista Álvaro Polati de Souza. Ele trabalha com engenharia aeroespacial em Londres e contou aos participantes sobre as perspectivas para os próximos anos: “O mercado é muito dinâmico, você conhece muitas pessoas e, a partir disso, tem cada vez mais oportunidades. O Reino Unido precisará de profissionais qualificados para a retomada econômica depois da pandemia”. Antes de Londres, Polati morou na Itália, onde trabalhou com aeronáutica. A cidadania italiana abriu portas, mas não é o único caminho, explicou: “Com a saída do Reino Unido do Brexit, ainda não sabemos como ficará a questão de livre movimentação de pessoas entre os países da comunidade europeia. Mas, de maneira geral, a habilitação em engenharia no Brasil já torna mais fácil conseguir uma oportunidade profissional em outros lugares do mundo”.

Foi a partir dessa visão que o Eng. Florestal Douglas Porrua migrou da UTPFR para Portugal. Por meio de um intercâmbio, conseguiu a dupla diplomação e começou a trabalhar na área de certificação florestal. O conhecimento técnico proporcionado pela faculdade de engenharia o levou para a Espanha, onde atua hoje, também na área de florestas. “O networking foi fundamental para transitar entre os países e as oportunidades de trabalho”, destacou Douglas. Ele contou que, enquanto em Portugal a metodologia de trabalho é mais conservadora, na Espanha há lideranças jovens com uma visão bastante moderna da engenharia. “Tanto em Portugal quanto na Espanha, o conhecimento técnico do brasileiro é muito valorizado. A experiência profissional tem sido muito gratificante”, comentou.

Por fim, o painel dedicado a jovens profissionais foi até a Nova Zelândia, com participação da Engª Ambiental Maria Luisa Aguiar, que trabalha em Auckland. “Aqui há uma demanda muito grande por profissionais da área”, iniciou Maria Luisa, que já mudou de área duas vezes naquele país. Ela explicou que, como faltam profissionais qualificados, a rotatividade de funcionários é grande e as empresas trabalham focadas em retenção de talentos. No entanto, é preciso chegar ao país com alguma experiência prévia na área. “É mais difícil conseguir o primeiro emprego aqui sem ter trabalhado na área antes. Não é só vir formado, tem que ter um pouco de experiência, além de inglês fluente”, observou a engenheira. Maria Luisa deu uma dica para quem pretende trabalhar na Nova Zelândia: “Comece a estudar inglês e não se limite à sala de aula, é preciso ir além. Também recomendo uma experiência profissional no Brasil, começando pelo estágio”, finalizou.

Conteúdo: Básica Comunicações

 

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