Direito às cidades inclui acessibilidade física e on-line
Especialistas falam por que é importante projetar a partir do fator humano
Quando você pensa em acessibilidade, a primeira coisa que vem à sua cabeça são rampas nas faixas de pedestres? Os tempos pedem um raciocínio mais abrangente sobre o assunto: a pandemia trouxe à tona a urgência de repensar a maneira como nos relacionamos com o nosso entorno e essa foi a proposta do painel “Cidades Acessíveis 2025”, no segundo dia da 2ª. SEPEAG Digital.
“Se não tem acessibilidade, não é para todos”, citou a engenheira de segurança do trabalho e conselheira do CREA-PR, Elizandra Sartori, no início do painel. A partir dessa ideia, a engenheira civil Paula Teles, fundadora da mpt®, empresa de planejamento urbano e gestão da mobilidade em Portugal, analisou como o desenvolvimento das cidades tem acontecido de forma quase paralela ao estilo de vida da população. “A nova geração está crescendo e acompanhando a cidade pela janela do carro dos pais”, disse Paula. A reconexão quase obrigatória com o espaço onde vivemos mostrou que, na maior parte do tempo, estamos imersos em engarrafamentos, com dificuldades de cruzar a cidade e, ao mesmo tempo, aproveitando pouco o espaço público. “A cidade ainda é uma desconhecida, as pessoas se sentem inseguras e não sabem o que podem usufruir, e nem como podem usufruir”, analisou a engenheira civil.
Temas como mobilidade e acessibilidade ainda não ocupam o centro do planejamento urbano em muitas nações e Paula Teles deu uma dica para os participantes da 2ª. SEPEAG Digital: “Nós precisamos nos ajustar aos nossos desafios, sabendo que eles mudam com frequência. Projetar pensando primeiro na escala humana, depois na escala urbana, com áreas mais livres de obstáculos para todos”.
População cada vez mais conectada
A construção de cidades mais humanas e inclusivas vai além de imaginar calçadas planas, semáforos com avisos sonoros e cardápios em braile. A acessibilidade começa na ideia de eliminar qualquer dificuldade na rotina e esse foi o gancho para a segunda palestra do painel, apresentada pelo professor e doutor Ramiro Gonçalves, também de Portugal. A mobilidade urbana depende da acessibilidade tecnológica: como pedir uma comida pelo delivery, solicitar um carro por aplicativo ou apreciar as obras de um museu sem ouvir ou enxergar? Afinal, estamos conectados com a cidade pelo meio digital: “É preciso que todas as pessoas que possuam um tipo de limitação funcional possam perceber, compreender, navegar e interagir com a web. É uma questão social, de igualdade de oportunidades; e econômica, a web acessível gera negócios de todos os tipos”, explicou Ramiro.
Uma pesquisa do Movimento Web Para Todos revelou que menos de 1% dos sites brasileiros são acessíveis – e isso envolve melhorar a experiência para usuários com qualquer dificuldade física, motora ou cognitiva. O Dr. Ramiro Gonçalves destaca que, ao longo da vida, a maior parte da população precisará de algum tipo de acessibilidade digital, até mesmo por problemas simples como a diminuição da acuidade visual na idade adulta. “Existem duas crescentes: a necessidade de acesso à informação e o envelhecimento da população”, ressalta o especialista. A boa notícia é que já há muita tecnologia disponível para equilibrar essa equação e tornar o mundo mais acessível num futuro próximo. Big data, computação em nuvem e inteligência artificial vão desenhar cidades verdadeiramente inteligentes, em que pessoas e lugares estarão conectados.
Há muitos desafios pelo caminho e o primeiro deles é entender a acessibilidade como uma coisa só: desenvolver soluções pensando sempre no fator humano, seja num projeto urbano, seja num website. “Desenhar os conteúdos sob medida para cada um os usuários é um elemento competitivo fundamental”, completou o Dr. Ramiro Gonçalves. Para a engenheira civil Paula Teles, a acessibilidade completa fará “cidades mais felizes, que naturalmente se tonarão mais amigas de seus habitantes e visitantes”.
Acompanhe a programação pelo canal do Crea-PR no YouTube e um ótimo evento! As inscrições ainda podem ser feitas em sepeag.crea-pr.org.br.
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